Daughter - Youth (The Wild Youth EP)
Senti meus minhas pernas doendo, não só
elas, senti meus braços finalmente começando a pulsar de modo doloroso e ao
mesmo tempo reconfortante – eu estava vivo. Sentir aquela dor e aquela
dificuldade de respirar era algo tão angustiantemente feliz, que eu não pude
fazer mais nada a não ser reunir minhas forças para me levantar da cama,
despir-me e ir para o banho.
O
gemido quase abafado saiu quando a água tocou meu rosto ferido, assim como
minha boca aberta devido aos murros. Minhas lagrimas misturaram a água do
chuveiro e eu finalmente sucumbi e fiquei ali debaixo da água quente por um
tempo que eu não poderia dizer. Minhas pernas não doíam mais, a dor física não
era nada demais, aquela sensação de que algum ruim estava para acontecer
finalmente se tornara realidade – aquela sensação de que algo grande estava
vindo para esmagar nós todos finalmente tinha se concretizado.
Minhas lagrimas e riso eram indecifráveis,
eu estava triste e ao mesmo tempo eu estava vivo, eu deveria ser a pessoa mais
sortuda por isso. Não estava pendurado ou qualquer coisa nesse sentido sendo
torturado. Eu só tinha levado uma surra, eu iria sobreviver. Sorri tentando me
recompor e levantei me apoiando no trinco do chuveiro. Desliguei a água e
finalmente sai, me enxuguei e troquei de roupa.
Sai do banheiro e ouvi o toque na porta. – Pai eu já disse que to bem. – Falei
enquanto me arrastava ate a porta e a abria.
Por um segundo. Por um misero segundo eu
senti meu coração parar e minhas pernas travarem, eu não queria ter aquela conversa
agora, eu não queria aquilo, não agora, eu não tinha cabeça para aquilo, eu o
queria com todas as minhas forças, confesso, mas eu não queria brigar, eu não
tinha forças para isso.
- Seu
rosto.
– ele falou me olhando quase acusando. – Não...
Não é nada... – E antes que eu pudesse perceber ele já estava virando para
ver melhor. Tentei desvincular sem muita vontade de sua mão áspera e firme
virando para ver melhor os cortes causados pelos murros. Eu ia falar algo, mas
antes que eu pudesse o vi respirando e baixando seus olhos, agora de coloração
vermelho rubi, como os de um predador. Engoli minha frase, engoli qualquer
coisa que tivesse passando por minha mente.
Quase sorri.
- Você
quer entrar?
– Falei meio incerto quase me arrependendo antes mesmo de chamar, ele passou
por mim e ficou parado do lado da minha escrivaninha. Com os punhos fechados e
respirando, tentando manter a calma. – Eu
estou bem, mas não tenho certeza dos seus lobos. - ele me olhou franzino o cenho. – Os Argent estão com eles. É só isso que
eu sei.
As frases saíram sem muita energia, quase
como uma recaída dado de forma automática – era para isso que eles tinham me
sequestrado e me surrado, eles sabiam sobre meu affair secreto, eles sabiam o
ponto fraco dele. Eu não queria que ele se machucasse, mas eles ameaçaram meu
pai, meus amigos, todo mundo próximo a mim, eu estava fazendo o que tinha de
ser feito. Eu não era nenhum herói. Eu não podia fazer as coisas que eles
faziam, eu era apenas humano.
-
Desculpa.
– Falamos quase ao mesmo tempo.
Engoli em seco e abaixei a cabeça, respirei
ou tentei fazer isso, já que eu estava a ponto de cair em lagrimas, eu não
queria aquilo. – Você sabe que isso é
uma armadinha, certo? – Falei sem olhar para ele. Pude sentir ele se
aproximando - silencioso e peçonhento como o predador que é.
Senti seu toque, seu cheiro. Uma lagrima
caiu dos meus olhos. – Eu sei. – Ele
falou enxugando ela. – Vai ficar tudo
bem. – sorri tentando acreditar na mentira. Senti seus lábios tocarem o meu
com cuidado, assim como sua mão firme e áspera na minha nuca, me puxando para
perto. – Era a única coisa que você
podia fazer. – Falou ele tentando enquanto as lagrimas escorriam dos meus
olhos. – eu vou ficar bem, você vai
ficar bem.
Eu não abri os olhos, eu não senti ele indo
embora, eu não senti mais nada, nem dor, nem tristeza, nem alegria, nem
esperança. Nem vida.
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